O Grupo de Pesquisa em Gestão Ambiental e Desenvolvimento de Empreendimentos Sociais (GAMDES), da Universidade Católica do Salvador (UCSal), divulgou os resultados do projeto Laboratório Criativo em Meio Ambiente e Saúde: Inovação e Empreendedorismo Junto às Cooperativas de Materiais Recicláveis da Cidade do Salvador – Bahia. A reunião virtual, realizada no dia 11 de fevereiro, contou com a presença da reitora da UCSal, Dra. Silvana Sá de Carvalho, do pró-reitor de pesquisa e pós-graduação da UCSal, Dr. Moacir Tinôco, de líderes das cooperativas e de pesquisadores ligados à área.
O projeto ajudou a delinear diferenças nos perfis dos catadores e das catadoras de materiais recicláveis da capital baiana. Entre os catadores avulsos: 87% são do sexo masculino; 66,4% se consideram negros e 85% recebem em torno de 150 a 350 reais mensais. Entre os cooperativados: 69,3% são do sexo feminino; 95% se consideram negros e recebem cerca de 570 reais mensais. Os catadores presentes na reunião confirmaram ser esse e outros resultados demonstrados pelo Laboratório Criativo, como elementos do cotidiano da categoria. Há dezesseis cooperativas em atuação em Salvador. No período pesquisado, apenas duas delas aceitavam receber o material coletado nos pontos de entrega voluntária – PEVs da prefeitura. Isto acontece porque cabe aos cooperativados separar, manualmente, o que uma parte considerável da população mistura, de forma pouco consciente, aos resíduos que podem ser reciclados. Após o início da pandemia, os PEVs da capital tiveram que ser desativados.
Os dados apontam que o Programa de Coleta Seletiva elevou tanto a produção quanto a receita das cooperativas que trabalhavam com material oriundo de PEVs. O incremento financeiro para alguns tipos de materiais, a exemplo de papel, vidro e de diferentes tipos de plástico, foi considerável. No entanto, as condições gerais de trabalho dessas cooperativas exigem apoio da gestão municipal, para dotá-las da estrutura adequada para o desenvolvimento de suas atividades, uma vez que diversos riscos, de natureza físico-química, biológica, mecânica e ergonômica, aos quais os cooperados estão expostos, poderiam ser mitigados.
Algumas das melhorias necessárias envolvem um custo muito pequeno para os cofres públicos. Elas poderiam ser facilmente solucionadas, a partir de encontros de orientação, como para divulgação das posturas adequadas a cada etapa de trabalho, da necessidade de manutenção periódica das máquinas ou de alterações no layout da planta da cooperativa para otimização do trabalho e aumento na receita. Esta verba poderia ser investida na compra de equipamentos de proteção individual condizentes à atividade realizada, uma vez que o risco de exposição a vírus, bactérias e outros micro-organismos foi avaliado como de intensidade elevada durante o período de pesquisa de campo. A aquisição de maquinário e veículos também mostraram-se importantes para estas cooperativas.
A pesquisadora líder do Grupo de Pesquisa GAMDES, Profa. Dra. Cristina Marchi, lembra que as conclusões sinalizadas pelo projeto de apoio aos catadores coincidem com o decreto 10.936 de 2022, responsável por regulamentar a política nacional de resíduos sólidos. “Percebe-se uma lacuna entre o que está no artigo 39 do decreto e a ação do poder público em relação aos catadores”, reflete. O documento prevê políticas públicas específicas relacionadas a esses trabalhadores, a exemplo da dispensa de licitação para cooperativas, estímulo à capacitação, à formalização, ao empreendedorismo e à melhoria das condições de trabalho desta categoria.
O Laboratório Criativo em Meio Ambiente e Saúde teve duração de 36 meses e contou com recursos do Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq). Entre os resultados alcançados estão a conclusão de três dissertações de mestrado, publicação de artigos em eventos acadêmicos e periódicos indexados, além do encaminhamento para início de um projeto piloto de coleta seletiva solidária no campus de Pituaçu da UCSal. Também estava prevista a visita de pesquisadoras da área de saúde do Trinity College da Irlanda às plantas das cooperativas de Salvador, mas não houve aprovação de financiamento pela União Europeia.
A Professora Cristina Marchi, escolhe focar nos ganhos trazidos pelo projeto. “Nós estreitamos a relação com a Profa Dra. Catherine Comiskey, pesquisadora sênior do Trinity College de Dublin, Irlanda e coordenadora acadêmica do Mestrado Global Challenges for Sustainability, apoiado pelo Programa Erasmus da União Europeia. Trocamos experiências entre a realidade da Europa e do Brasil, o que gerou aprendizados mútuos para todos os pesquisadores e catadores envolvidos. Isso pode agregar valor às atividades realizadas por cooperativas de materiais recicláveis do município de Salvador”, explica. Tal pensamento, também é compartilhado pelo catador de materiais recicláveis, membro do GAMDES e doutorando, Joilson Santana. “O Laboratório Criativo foi uma oportunidade para identificação de desafios que circundam o cotidiano destes empreendimentos, mas também de contribuições que podem ajudar a superar esse cenário. Realmente observamos uma troca de saberes entre a academia e os catadores/as”, completa Santana.
Fonte: GAMDES